sábado, 25 de dezembro de 2010

Noite feliz


Era vinte e cinco de dezembro à noite. Enquanto muitos iam a confraternizações, Luisa pensava nele. Uma coisa ela tinha que admitir: ainda o amava. Dois anos já se passaram, muita coisa aconteceu e ela seguia só. É estranho pensar que ele não existe mais. Na verdade, o Beto com quem ela dividiu tantos momentos bons, que lhe ensinou tantas coisas, que a fez sofrer, chorar, crescer se transformou em outra pessoa. Mas ela também se transformou. Então é isso, não existe mais ela nem ele. O que nos leva a concluir que ela ama um fantasma, uma lembrança.
Foi estranho quando entrou no seu Facebook. Rostos conhecidos mais maduros. Como ele está bem! Deduziu que ele se encontrou, se libertou, se tornou mais leve física e espiritualmente. Logo lembrou que isso ela não podia levar em consideração já que a autopropaganda era o forte do rapaz, e o que estava sendo mostrado podia muito bem não corresponder à realidade. É incrível como há homens que basta estarem acompanhados não importa de quem que são as pessoas mais felizes do mundo, e o caso de Beto não era diferente. Lugares que freqüentou, a boca que beijou, o carro que já dirigiu, toda uma vida agora com outra mulher ao lado. Felicidade, ciúme, raiva, indignação. Quantos sentimentos somos capazes de juntar em apenas um segundo? Como se chama o sentimento de paz interior de Luisa por ver que Beto está feliz? Como se é capaz de amar e querer distância da pessoa amada? O que fazer quando se quer falar, mas ao mesmo tempo não há diálogo? Um turbilhão de perguntas rondam a cabeça da pobre Luisa. Em meio a tanta divagação olhou para o espelho e ficou desanimada com o que viu. Olheiras gigantes, cabelo despenteado, roupa amassada de anteontem. Antes que pudesse pensar em alguma coisa levantou e começou a andar pela casa, nervosa, decidida a tomar uma atitude, além de desligar o computador idiota.
- Preciso me maquiar, é isso. Mulher nenhuma é triste maquiada. Então começou a pintura que de tanto fazer, já se tornou rápida e eficaz. Próximo passo foi sair de casa, e ir até a esquina comprar um chiclete no posto de gasolina. Só de sentir a brisa no rosto, o movimento dos carros, das pessoas foi melhorando. Como um ato tão simples pode desestabilizar completamente uma pessoa que estava tão bem? Luisa só quer que aquele equilíbrio conquistado seja eterno como o chiclete que está na boca, doce e refrescante. Nada mais adequado para sua noite feliz.