domingo, 20 de maio de 2012

O moita


O moita não desce do muro, fica a espreita. Pensa estar confortável, pois ninguém o vê. Por que não desce e corre no gramado? Porque não pula de uma vez pega a seda do varal? Por que não grita e pede ajuda? Por que não goza?

Falta-lhe coragem para a ação. Ameaça, mas o medo do incerto prende-lhe a respiração. Até quando vai ficar ali? Não fala, prefere mandar mensagens. Alguém o entende? Alguém o leva a sério?

Não consegue realizar nem desistir. Não sai da inércia em que está até vir um vento forte e derrubar o pobre voyer lá de cima. Pode sofrer arranhões, mas a cabeça dura continuará intacta.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Dois em um


De onde surgiu
Quando convidou
Se queria, por que não aceitou
Curiosa, voltou atrás

Insiste, mas finge que não
Carente e sincero rapaz
Flores e chocolates duvidosos
São o prelúdio da desilusão

A esperança de entender
Supera o lamento de perceber
O que no início já estava claro
Desista, mulher

Que o de dentro não comunica com o de fora
Nem o corpo deixa a alma aflorar
O que parece simples,
Simplesmente não sabe o que quer

terça-feira, 1 de maio de 2012

Algo de diferente

Queria ir para um outro planeta, experimentar um outro mundo. Escolhi o ponto mais distante possível, e também o mais seguro, de maneira que me sentisse em casa. Tudo em família, seja de sangue ou de consideração, minha nova realidade me dava a garantia que tudo ia correr bem. A diferença era gritante não apenas nos olhos repuxados, silhuetas retas ou pele alva. Tímidos ou reprimidos, concentrados ou disciplinados, sorridentes ou simpáticos. Antes de tudo solitários. As características se confundem no meio da multidão apressada que... vai pra onde afinal? Mandam recados para quem não tem coragem de se declarar, conversam com quem não tem tempo de se encontrar, vêem nos quadrinhos o sexo que gostariam de fazer, mas não têm iniciativa. Porque levantam cedo e chegam tarde depois do happy hour do trabalho, cheirando a álcool destilado, cambaleando e caindo pelas estações de metro até chegar em casa. O que vejo é um trabalho incansável para reconstruir um país inteiro mais uma vez. Limpam, planejam, organizam, racionam, escolhem. Têm orgulho do resultado, do passado, das conquistas. Após um período para se acostumar com a rigidez, de certa forma, gosto dos quadrados, antes círculos para mim. Garantia de direitos e deveres individuais para a convivência pacífica das pessoas. A combinação de sabores e texturas me encanta. O doce se mescla ao salgado, o quente é invertido com o frio, o picante brinca com o doce e o suave zomba do fibroso. Mais leveza na digestão, mais tempo para meditar. A aparência define e permite ousar criando bonecas-humanas, homens andróginos e rebeldes de causa. As flores garantem um aroma doce nos jardins, com grupos de amigos reunidos, comendo, bebendo e celebrando. As duas semanas mais esperadas do ano. E agora entendo porque fotografam tanto. Porque tudo é lindo, nada mais justo. Música clássica ou bossa nova para compor o ambiente e relaxar a alma aflita. Não se tocam, pois o respeito castrador fala mais alto, como se fosse incomodar a todo momento. E Timidamente, dançam, lutam, rezam. Se integram com a natureza de maneira harmônica e respeitosa.... até a segunda página, aquela da pesca predatória. Porque sim, nem tudo é tão bom e saudável. Nos jogos de azar, tristemente perdem um pouco da alegria da vida. E eu, que tinha acabado de chegar, fico saudosa de partir e feliz por ter vindo. Mas a sensação é que viajei para um tempo distinto do meu, por vezes passado, outras futuro, e que a nossa sociedade caminha para esse lugar incerto de ocupadas pessoas solitárias, mas de uma maneira um pouco diferente.