quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Almoço de família


Antônio e Larissa se conheceram no escritório onde trabalham. Ambos são advogados, ele, um dos sócios, e ela recém-formada. Sentiram uma atração inexplicável, logo começaram a sair juntos, cinemas, restaurantes, muitos pontos em comum. O sexo era simplesmente fantástico, tinha algo de poético, de especial, fazia com que parecesse que estavam num dos filmes do Bertolucci. Ficavam se perguntando como conseguiram viver até agora um sem o outro e, em um mês, já estavam namorando.
Ela, completamente apaixonada. Ele gostava dela, pois com ela ele se sentia importante. Falava com ela com seu ar professoril, sempre com razão sobre tudo. Ela era jovem e ansiava por conhecimento e experiência, que logicamente, buscava nele. Ele, sempre seguro e intenso em cima do palco que era sua vida, precisava de aplausos. Sentia que ela dependia emocionalmente dele, o admirava e respeitava e, portanto, estaria ao seu lado em qualquer momento, em qualquer circunstância, fiel como um cão. Ela gostava dos seus amigos e estava prestes a conhecer a sua família:
-Boa tarde papai, mamãe. Queria apresentar a minha namorada, Isabel. Esses são meus irmãos, Pedro e Lucas.
- É o mesmo nome de uma amiga minha. Que coincidência...
- Ah, desculpe,... Isabel não, Larissa. Isso que eu quis dizer.
-O que é isso, meu amor!? Mas ...você já teve alguma namorada com esse nome? Uma amiga? Conhece alguém?
- Não, meu amor. Juro, nunca tive nenhuma pessoa próxima com esse nome. Apenas troquei seu nome por um outro qualquer! Qual o problema, gente?! Por que me olham assim? Quem nunca trocou nomes?
Enquanto a família toda se sentava à mesa para o almoço de domingo, Larissa olhava pensativa a paisagem na janela e refletia em silêncio sobre o diálogo que acabara de acontecer.
- Não há nada pior que estar no mesmo nível de significância que uma pessoa qualquer. Antes tivesse me trocado por uma ex-namorada, pois pelo menos seria alguém que teve um significado para ele! Melhor pensar que foi um engano mesmo, como ele disse, que foi só uma inocente troca de nomes.
Não foi desatenção, foi descuido. Mas isso, ela só descobriria anos mais tarde, depois dos aniversários esquecidos, das festas de família e dos amigos que teve de ir sozinha, dos enterros de parentes que, afinal de contas eram programas muito chatos, que ele não estava a fim de fazer, dos cinemas desmarcados em cima da hora depois dos ingressos já comprados, dos jantares esquecidos, que não podiam competir com outras coisas mais importantes. E, então, um dia, ela acordou diferente, nascia em seu peito uma nova mulher. Seria agora Isabel?

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