domingo, 13 de fevereiro de 2011

Motamorfose autofágica


Sou feita de pena e sangue, delicadeza e dor. Minha beleza não é comum. Me chamam de meiga, mas posso ser cruel. Nunca levantei nenhuma suspeita desse meu outro lado, nunca errei. E você me quer assim, singela, doce e perfeita. Porém, estou enjoada de mim, me quero ácida, me quero farta, me quero toda. A coragem que me move é grande e inevitável.
E, por isso, a metamorfose, que pode não ser completa, mas está em andamento. Me visto de mim, meu recheio sou eu. O que sou capaz de fazer? Há quem duvide. Beijar você, ela, ele, arrastar todos comigo. Te magôo, me magôo e ninguém compreende. Me entrego em seus braços e gozo. Mais de uma vez, lindamente. Vivo dez anos em uma semana e rejuvenesço. Experimento o que é bom e desconhecido.
Como quem se delicia com o fruto proibido, vou comendo lentamente pedaço por pedaço de meu corpo amorfo. E, rapidamente, sem que nem eu mesma perceba, ele renasce para me servir de alimento mais uma vez. Autofagia transformadora ao som dos grunhidos de horror. Sou eterna e tenho um novo rosto. Meus olhos vermelhos de mar te chamam.
Dance comigo esse Lago dos Cisnes, onde a morte é o caminho da liberdade. Segure minha mão bem forte porque a vida é curta e o sofrimento é grande. Não lamente a perda ocorrida, pois ela tinha que acontecer. Meu ventre agora sangra, e, em teus lábios surpresos, renasço forte e certa de que fiz o meu melhor.

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