quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Passando de fase


Quanto mais ela dizia que o amava, que tinha certeza que queria ficar com ele, que poderia mudar, que tinha muitas saudades e não via a hora de voltar para a sua vida, mais ele franzia as sombrancelhas, lançava um olhar gélido e ensaiava com um sorriso sarcástico.
- Essa é boa! Isso só pode ser uma piada de mau gosto, como tudo o que faz! Mônica, foi você que quiz assim. Você estava muito decidida quando bateu aquela porta e me deixou com os gêmeos dizendo que tinha que viver sua vida, que estava apaixonada. Tinha dúvidas sobre a nossa relação, estava confusa, que não sabia se me via mais como amigo do que como marido. Começamos a namorar muito novos, eu sei, mas isso eu não suportei. Você me humilhou demais! E eu estou vivendo a minha vida, ora, muito bem sem você. Aliás, eles também. Nos primeiros meses dizia para eles que estava viajando e já tem algumas semanas que não perguntaram mais por você. Estão muito bem adaptados à nova babá, irão começar na escola nova na próxima semana e estão se entendendo bem com a Fê.
- Quem?
- Fernanda, minha namorada. Estamos juntos há dois meses e estou muito feliz. É o amor da minha vida, não podia ter encontrado uma mulher mais especial. É inteligente, sensível, bonita, além de ser advogada, antropóloga, socióloga, engajada em causas sócias, defensora dos direitos humanos e dos animais.
- Nossa... não sabia. Mas está me parecendo um pouco forçada essa coisa de defender todos os fracos e oprimidos do mundo! Se você está feliz, só me resta te desejar boa sorte. Não quero atrapalhar seus planos, só quero seu bem. Mas fique atento, não faça com ela o que às vezes fazia comigo. Vou continuar te amando, e de longe, te seguindo. Só te peço para me deixar vê-los.
- Não me venha com falsidades, Mônica. Eu não deveria, mas vou fazer isso por eles. Sábado estarão te esperando às dez. Meu advogado entrará em contato para vermos a papelada.
Seis meses depois, Eduardo se casa com Fernanda. O cotidiano não era tão maravilhoso quanto parecia e o casal após um ano começa a ter problemas. Ele não tira Mônica da cabeça, apesar de não aceitar esse sentimento. Não conseguiu perdoá-la. Por que ela fez aquilo mesmo o amando? Não teve cuidado com ele, o deixou para trás a troco de quê? Que fantasia é essa da felicidade? Ele sabia que a paixão que o separou de Mônica não duraria, e que ela, apesar de tudo, ainda o amava. Ele era feliz ao lado dela, era o homem mais feliz do mundo e não sabia. Não sabia porque não olhava para o lado. Como seria sua vida se tivesse engolido seu orgulho e a aceitado de volta? Conseguiria passar uma borracha no passado e recomeçar? Conseguiria confiar nela de novo?
Os gêmeos riem alto, entram no quarto com pressa e tropeçam no sapato que estava no meio do caminho. Levam uma bronca de Fernanda, que não tem paciência e grita para baterem antes de entrar. Eduardo olhava para a tevê fixamente, com o copo de uísque na mão.
- Pai, pode consertar o video-game? Deu problema mais uma vez e já estávamos quase zerando o jogo.
- Papai já vai. Estou tentando zerar um jogo aqui também, mas não consigo passar de fase.


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