domingo, 22 de novembro de 2009

Carnaval I - Tamborim

É carnaval! Como, se estamos em julho? É que carnaval é um estado de espírito, não tem qualquer relação com a época do ano. Que bom! Podemos, então, pular carnaval o ano todo nos redutos perenes do samba. Batuque bom e convidativo, que encanta e que está a alcance de todos.

Uma bateria uníssona composta de muitos instrumentos. Qual escolher? Identifiquei-me com o intrigante e nada discreto tamborim. Leve, portátil e barato. Quem olha de longe não faz idéia de como é difícil tocar! Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Por que o som da volta é diferente do da ida? Mais uma vez, agora mais rápido: um, dois, três, quatro. É... tocar rápido não é fácil e o braço fica duro de ansiedade. Com o tempo, aprende-se que o mais difícil no tamborim é justamente não tocar e esperar o tempo certo. A respiração ajuda, os momentos de pausa são essenciais porque música é feita de som e silêncio, caso contrário seria um ruído contínuo e monótono. Espera, espera... agora!

No aprendizado do tamborim, a repetição é a chave de tudo. A memória não é apenas sonora, mas também corporal. Uma das vantagens deste instrumento é que podemos dançar e tocar ao mesmo tempo. Pode parecer estranho, mas fazer as duas coisas juntas é mais fácil do que apenas tocar. Muitas coreografias foram criadas e eu mesma posso inventar as minhas. Ao longo das aulas, vou pegando intimidade com a pele plástica e estridente e percebo que é preciso usar os braços em movimentos sincronizados de bíceps em ida e volta, que com a experiência, se tornam despreocupados,

Mas ele não está sozinho, sob a regência das caixas e dos chocalhos, ele dialoga com os surdos, repiques e agogôs. Diálogos ora simples, ora complexos, em meio a levadas, subidas, breques, bossas, venenos e hang-looses, sempre compondo ritmos originais e empolgantes.

Sem dúvida, é um instrumento tipicamente carioca, já que tem em sua alma toda a malandragem descolada e informal da Lapa. É extremamente sedutor. Pego na baqueta levemente, como que não querendo pegar, toco em ritmo frenético como se fosse trivial, danço relaxadamente, sorrio, paro, espero e tudo recomeça.

Ao som do tamborim não dá para ficar parado. Seu som agudo e ensurdecedor entra pelos ouvidos e penetra em todo o sistema músculo-esquelético de quem está por perto. Uma verdadeira metralhadora: um, dois, três, quatro num carreteiro infinito. Quero você, quero você, quero você - grita o tamborim para a mulata bonita que samba sincopada com os olhos fixos no rapaz despretensioso e simpático. Isso é carnaval: ritmo, alegria, sensualidade e sedução.

Será que chove, será que chove? Me empolgo a qualquer hora e Esse é o bom! Cada dia mais, as pessoas sabem que com o Bangalafumenga sambo pela beirinha e de qualquer maneira pelas ladeiras do Cosme Velho ou com os Escravos na Praça Mauá hoje, amanhã e sempre.

Rio de Janeiro 30 de Julho de 2009

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