Hoje acordei, olhei para a janela e vi o mundo de uma maneira nova. Aqueles morros, aqueles prédios, cada árvore, cada carro passando, cada pedra portuguesa cravada nas calçadas, o sol, o cristo de braços abertos, o bondinho do pão-de açúcar, tudo enfim, era meu. Era como se eu enxergasse a realidade pela primeira vez através de meus próprios olhos, e não por outra pessoa.
Então, prontamente, peguei minha recém comprada bicicleta, dessas simples, femininas, com cesto na frente, leves e práticas e fui desbravar o meu mundo. Nunca foi tão fácil andar de bicicleta! Eu determinei o que iria levar na mochila, como iria sentar no banco, tracei o meu roteiro, subi e desci na calçada quando bem entendia, comemorando minha liberdade total. Uma agradável sensação de auto-suficiência, saúde, ecologia e bem-estar.
E sentia que, pelos meus poros dilatados pelo calor do esforço, saía meu suor triste e sofrido, ainda por estar superando uma dor necessária para o amadurecimento. Às vezes me pergunto se não enlouqueci, se tudo o que sinto não é fantasia, mas sei que não.
Como uma esponja seletiva, absorvo dessa realidade tudo de bom que ela gentilmente me oferece. Cada canto de passarinho, cada raio de sol, cada sorriso tímido de criança, cada barco de remo na lagoa, cada onda quebrando no mar e criando uma barra de espumas brancas.
Bebo uma água de coco e já está na hora de voltar. Antes disso, faço uma pequena pausa para admirar o meu patrimônio. Como o dia hoje está bonito! Fecho os olhos, deixo que o vento refresque meu rosto, enrolo meu dedo em um anel de cabelo e penso que para atingir essa lucidez calma das coisas não é preciso muito, apenas se permitir sentir.
Rio de Janeiro, 28 de Setembro de 2009
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