Escrevo por necessidade, para sobreviver. É uma atividade vital como outra qualquer: respirar, comer, beber, dormir... Mas, afinal, qual é a minha matéria-prima? O que está ao meu redor. Como uma câmera fotográfica, eu registro, através dos textos, o que vivo e dou minhas impressões sobre o mundo.
Sinto-me uma espécie de catadora de lixo, que sabe reconhecer as virtudes do que parece inútil e sem valor e o recicla depois. Dou cintilância ao apagado e o transformo em belo.
Como fotografar o sentimento? Utilizando as palavras e a pontuação escolho o ambiente, luminosidade, ritmo, tensão e humor do texto. Difícil tarefa! Exponho minhas entranhas quentes e macias para meus seletos leitores. Por que isso? Para dividir com eles o horror que é viver e a maravilha que é nascer e desabrochar.
Gostaria de poder escrever mais solta e fotografar o instante mais fugaz, o silêncio, o perfume, a ternura e o amor. É preciso valorizar o amor, que parece tão impossível. Por que existe essa correlação tão direta entre o possível e o impossível? Quando se pensa que alguma coisa nunca acontecerá, e se despreocupa, portanto, só então é que começa a acontecer. Enquanto for possível, nada acontece. Quero fotografar o impossível, pois apenas ele me tranqüiliza, me entende e me liberta.
Rio de Janeiro, 05 de Setembro de 2009
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