Há dias não chove. Não sei o que há com esta cidade, com o país, com o mundo. Maldito efeito estufa! Está tudo tão seco! Como é possível depois de quase um mês de um sol sem trégua, de um calor senegalês, não termos uma gota da água sagrada dos deuses?
Já estava mais do que na hora. No fim da tarde, as nuvens negras cobrem o céu e uma brisa agradável chega às ruas. E com ela, vem um dos melhores cheiros do mundo: o cheiro da chuva. Sim, ela está chegando. Logo se sente os primeiros pingos, ainda fracos, porém constantes.
Dentro de pouco tempo eles tomam uma força extraordinária. Estrondos são ouvidos em volume ensurdecedor. Clarões e relâmpagos cortam o céu. O horizonte se turva e a natureza mostra todo o seu poder. As gotas, então, se tornam mais fortes e, quando sentidas, doem. Há quem goste de tomar banho de chuva, mas não é o meu caso. Gosto de ficar dentro de casa, de preferência de frente para o mar, próxima a uma janela bem ampla e em frente, uma varanda. E eu estou lá, protegida, assistindo ao grande espetáculo.
Se, por acaso, estiver ocorrendo uma ressaca no mar, melhor ainda. Para o programa se tornar perfeito só falta uma coisa. Engraçado o ser humano... Pode-se dizer que um grande temporal me excita, aguça meus sentidos. O olhar, a mão, o toque, o beijo, os carinhos, tudo fica mais intenso. Ter a sensação que o mundo está acabando, de que nada mais importa fortalece o aqui e agora. Perco o pudor e a timidez naturais, ouso. Então, o momento torna-se mais do que especial, é o último instante antes do fim do mundo. Tudo vale.
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