E, então, fico parada quase duas horas olhando... Quem som mais estranho! Prende totalmente minha atenção e os demais instrumentos ficam em segundo plano. Como se toca? Qual seria sua escala musical? Como foi criado? É um instrumento tipicamente brasileiro, porém ainda enigmático para muitos de nós.
Seu nome é simpático, tem um quê de ingenuidade e simplicidade. Não poderia ser diferente, já que é um instrumento popular, introduzido no Brasil pelos escravos. Às vezes acho que seu som se assemelha ao de um grito preso na garganta, e por isso sai distorcido e frenético. Quando fecho os olhos, imagino um pântano sombrio e escuto o canto dos sapos brejeiros. Sob a forma de grunhidos, gemidos, soluços e guinchos, eles exaltam o samba e garantem beleza para a música, a tornando especial.
Das gargantas dos sapos no fundo do brejo lamacento para o esplendor esfuziante do carnaval na avenida em milésimos de segundo, apenas com o abrir dos olhos. Fundamental para a cadência maliciosa das mulatas que brilham com suas coreografias acrobáticas na frente da poderosa bateria.
A questão é como, através de movimentos de ida e volta, dentro daquele cilindro metálico e com o auxílio da mão que pressiona a pele externa, se consegue produzir sua música? Minha imaginação é incapaz de criar uma forma de fricção que imite o ronco da cuíca selvagem. Um dia ainda decifro teus mistérios, ó cuíca, esfinge do samba.
Rio de Janeiro, 28 de Setembro de 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário